terça-feira, 7 de outubro de 2014

Instrumenta vocalia

                 

Por Natália Roim Ferreira

Os sucessivos e infindáveis andares dos atuais shopping centers, vistos do vão principal, remetem a um icônico monumento do mundo antigo, cuja função, implícita para os povos das respectivas épocas, é compartilhada por ambas as construções, os shoppings são o coliseu do século XXI. 

Anúncios como o do Cartão de Crédito X, que associam desmascaradamente a felicidade e a realização pessoal ao consumo, apenas reforçam tal analogia: da mesma maneira que o coliseu desviou as mentes romanas dos assuntos importantes para evitar revoltas durante a política do "pão e circo", os shoppings redirecionam as consciências contemporâneas para o consumo, iludindo os indivíduos ao fazê-los acreditar que são realmente felizes por possuírem bens materiais. Assim, os novos coliseus não impedem somente revoltas, mas revoluções.

No entanto, diferentemente de Roma, onde aqueles que assistiam aos espetáculos não eram escravos como os gladiadores, no coliseu capitalista todos são escravos. 

Se Platão testemunhasse a sociedade contemporânea, a alegoria da caverna seria diferente: a caverna cederia lugar ao shopping, as sombras, às vitrines e as correntes, aos cartões de crédito. 

As pessoas são hoje escravas do consumismo, do capitalismo e do materialismo, incapazes de se libertar e encontrar a verdade, que não se encontra onde a mídia e os meios de comunicação em massa afirmam que está. 

O mal do século, a depressão, decorre da procura inconsciente e continuamente frustrada, da qual muitos já desistiram, pela verdadeira felicidade, aquela presente do lado de fora da "caverna".

Impor aos indivíduos um rígido regime de condicionamento mental para que acreditem que "o melhor que o mundo tem a oferecer" pode ser comprado com dinheiro, apenas intensifica a angústia humana e os afasta de tudo aquilo que realmente tem potencial para receber tal título. 

Precisa-se de um homem corajoso como Platão para libertar os escravos do consumismo e transformar os coliseus deste século em ruínas como seu antecessor.

* Natália Roim Ferreira, aluna do 3°ano, turma 2014. Texto baseado na proposta de redação da Fuvest 2013.

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Instrumenta vocalia

                 

Por Natália Roim Ferreira

Os sucessivos e infindáveis andares dos atuais shopping centers, vistos do vão principal, remetem a um icônico monumento do mundo antigo, cuja função, implícita para os povos das respectivas épocas, é compartilhada por ambas as construções, os shoppings são o coliseu do século XXI. 

Anúncios como o do Cartão de Crédito X, que associam desmascaradamente a felicidade e a realização pessoal ao consumo, apenas reforçam tal analogia: da mesma maneira que o coliseu desviou as mentes romanas dos assuntos importantes para evitar revoltas durante a política do "pão e circo", os shoppings redirecionam as consciências contemporâneas para o consumo, iludindo os indivíduos ao fazê-los acreditar que são realmente felizes por possuírem bens materiais. Assim, os novos coliseus não impedem somente revoltas, mas revoluções.

No entanto, diferentemente de Roma, onde aqueles que assistiam aos espetáculos não eram escravos como os gladiadores, no coliseu capitalista todos são escravos. 

Se Platão testemunhasse a sociedade contemporânea, a alegoria da caverna seria diferente: a caverna cederia lugar ao shopping, as sombras, às vitrines e as correntes, aos cartões de crédito. 

As pessoas são hoje escravas do consumismo, do capitalismo e do materialismo, incapazes de se libertar e encontrar a verdade, que não se encontra onde a mídia e os meios de comunicação em massa afirmam que está. 

O mal do século, a depressão, decorre da procura inconsciente e continuamente frustrada, da qual muitos já desistiram, pela verdadeira felicidade, aquela presente do lado de fora da "caverna".

Impor aos indivíduos um rígido regime de condicionamento mental para que acreditem que "o melhor que o mundo tem a oferecer" pode ser comprado com dinheiro, apenas intensifica a angústia humana e os afasta de tudo aquilo que realmente tem potencial para receber tal título. 

Precisa-se de um homem corajoso como Platão para libertar os escravos do consumismo e transformar os coliseus deste século em ruínas como seu antecessor.

* Natália Roim Ferreira, aluna do 3°ano, turma 2014. Texto baseado na proposta de redação da Fuvest 2013.

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