segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Teoria dos avestruzes

Gabriela Trivilim


A persistência na criminalização da maconha é adotar a "técnica dos avestruzes", fechando os olhos e a mente à realidade, inutilizando a visão e o senso crítico, habitando uma zona de conforto, um cômodo "buraco" familiar a cada um, onde finge-se que não existem problemas fora do conformismo. 

Ao conceber e carregar a ilusão de que a questão da maconha será resolvida pela repressão policial, coloca-se um empecilho no desenvolvimento social, criando uma sociedade como esta, repleta de conflitos.

É cientificamente conhecido que a cannabis é menos nociva ao organismo do que a nicotina dos cigarros e o álcool das bebidas. Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil cerca de 96,2% das mortes ocasionadas pelo abuso de drogas são causadas pelo álcool (84,9%) e pelo tabaco (11,3%). Ambas são drogas lícitas e consumidas pela maioria da população, e aquela que mais mata, o álcool, possui ainda o direito de exibir propagandas nos veículos de comunicação, persuadindo os consumidores a fazerem seu uso. Trata-se de uma grande hipocrisia manter a maconha criminalizada enquanto essas grandes assassinas têm seu uso regularizado.

O governo tem gastos com clínicas de reabilitação para os dependentes, porém como a droga é ilícita, não há o recolhimento de impostos sobre sua venda. Com a descriminalização da droga, sob seu preço regularizado haveriam os tributos (que sempre são "generosos" neste país), taxas que poderiam ser revertidas para cobrir os custos já existentes com os usuários e a criação de mais clínicas para a internação destes. 

A descriminalização impediria o tráfico, pois seria fácil diferenciar traficantes de usuários, utilizando notas fiscais, por exemplo, e trazendo justa punição aos criminosos. A guerra às drogas vivida hoje nunca impediu que se fizesse o uso de drogas, lícitas ou ilícitas, nem reduziu-o; além de não barrar o acesso de menores, o que poderia ser feito através de leis com sua devida regulamentação.

A aprovação da maconha traria maiores esclarecimentos quanto ao seu uso e seus malefícios. Seria possível aprender a lidar e combater a dependência e criar regras de convívio social como locais e horários adequados, como feito em Amsterdã e como ocorreu com o cigarro. 

Os registros de mortes por abuso da maconha são raríssimos, entretanto as vítimas dessa criminalização são muitas e constantes, mortas pelo tráfico. Não se pode ignorar um grande problema por medo de criar outros. É preciso enxergá-los com clareza e senso crítico, deixando todos os pré-conceitos de lado para poder enfrentá-los de forma coerente. 

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Teoria dos avestruzes

Gabriela Trivilim


A persistência na criminalização da maconha é adotar a "técnica dos avestruzes", fechando os olhos e a mente à realidade, inutilizando a visão e o senso crítico, habitando uma zona de conforto, um cômodo "buraco" familiar a cada um, onde finge-se que não existem problemas fora do conformismo. 

Ao conceber e carregar a ilusão de que a questão da maconha será resolvida pela repressão policial, coloca-se um empecilho no desenvolvimento social, criando uma sociedade como esta, repleta de conflitos.

É cientificamente conhecido que a cannabis é menos nociva ao organismo do que a nicotina dos cigarros e o álcool das bebidas. Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil cerca de 96,2% das mortes ocasionadas pelo abuso de drogas são causadas pelo álcool (84,9%) e pelo tabaco (11,3%). Ambas são drogas lícitas e consumidas pela maioria da população, e aquela que mais mata, o álcool, possui ainda o direito de exibir propagandas nos veículos de comunicação, persuadindo os consumidores a fazerem seu uso. Trata-se de uma grande hipocrisia manter a maconha criminalizada enquanto essas grandes assassinas têm seu uso regularizado.

O governo tem gastos com clínicas de reabilitação para os dependentes, porém como a droga é ilícita, não há o recolhimento de impostos sobre sua venda. Com a descriminalização da droga, sob seu preço regularizado haveriam os tributos (que sempre são "generosos" neste país), taxas que poderiam ser revertidas para cobrir os custos já existentes com os usuários e a criação de mais clínicas para a internação destes. 

A descriminalização impediria o tráfico, pois seria fácil diferenciar traficantes de usuários, utilizando notas fiscais, por exemplo, e trazendo justa punição aos criminosos. A guerra às drogas vivida hoje nunca impediu que se fizesse o uso de drogas, lícitas ou ilícitas, nem reduziu-o; além de não barrar o acesso de menores, o que poderia ser feito através de leis com sua devida regulamentação.

A aprovação da maconha traria maiores esclarecimentos quanto ao seu uso e seus malefícios. Seria possível aprender a lidar e combater a dependência e criar regras de convívio social como locais e horários adequados, como feito em Amsterdã e como ocorreu com o cigarro. 

Os registros de mortes por abuso da maconha são raríssimos, entretanto as vítimas dessa criminalização são muitas e constantes, mortas pelo tráfico. Não se pode ignorar um grande problema por medo de criar outros. É preciso enxergá-los com clareza e senso crítico, deixando todos os pré-conceitos de lado para poder enfrentá-los de forma coerente. 

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